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Tipo do documento: Tese
Título: “Que tal se os loucos tiverem razão?”: um olhar psicanalítico sobre o messianismo
Título(s) alternativo(s): “What if the madmen were right?”: a psychoanalytic look at messianism
Autor: Beteille, Irene Moura 
Primeiro orientador: Alberti, Sonia
Primeiro membro da banca: Silva, Marcos Eichler de Almeida
Segundo membro da banca: Elia , Luciano da Fonseca
Terceiro membro da banca: Lo Bianco, Anna Carolina
Quarto membro da banca: Facchinetti , Cristiana
Resumo: O desinvestimento público nos dispositivos de saúde mental instalados a partir da Reforma Psiquiátrica da virada do século parece acompanhar o crescimento de instituições religiosas como as Comunidades Terapêuticas. Estas, teoricamente, visam ao tratamento dos usuários de drogas através da internação mas, na prática, tornaram-se depósitos dos membros do que Foucault (1961) chamou de “mundo uniforme do desatino”. Repetição do que ocorreu há quatro séculos nos países europeus tratados por Foucault? A realização de parte do doutorado na Alemanha, país onde o messianismo cumpriu um importante papel na emergência da Guerra dos Camponeses (1526) e o movimento dos Anabatistas (1533) durante o final da Idade Média, foi importante para que eu pudesse estabelecer paralelos com o messianismo que, no Brasil, inspirou diversas revoltas. Recorro ao tema do messianismo que, segundo o sociólogo da religião Lísias Nogueira Negrão (2001), refere-se “à crença em um salvador, o próprio Deus ou seu emissário, e à expectativa de sua chegada, que porá fim à ordem presente, tida como iníqua ou opressiva, e instaurará uma nova era de virtude e justiça”. A leitura que aqui realizo é um esforço para lançar luz, pela via da psicanálise, sobre a imiscuição na saúde mental do messianismo no Brasil, o advento do pentecostalismo e do neopentecostalismo. Para melhor entender o contexto em que se deram aqueles movimentos no passado, parti da hipótese de que a queda de referências externas que cumpriam a função de S1 no discurso do mestre, colaborou para a emergência do discurso profético de líderes messiânicos, como também ocorreu com Antônio Conselheiro que rogava pelo retorno do regime monárquico pelas mãos da princesa Isabel, sendo aplaudido por uma massa de homens recém-libertos da escravidão, mas sem condições sociais de exercerem o papel de cidadãos. Durante a regência de Pedro II, que fundou o hospício que levava seu nome, a divisão que então era estabelecida entre o saber médico e o religioso foi dando lugar à preponderância do discurso científico. A partir de alguns textos elaborados pela FIOCRUZ, pude verificar que isso lastreou a passagem do inicial tratamento da loucura, para a incorporação da prática eugênica importada da psiquiatria alemã e a criação das fábricas de morte, o “Holocausto brasileiro”. Minha hipótese é a de que a crescente intolerância em relação ao desatino em nossa sociedade, intolerância essa que conduziu ao recente aumento das políticas de contenção de usuários de drogas e de sujeitos psicóticos em Comunidades Terapêuticas, difere do modo de reação de há 400 anos, que se deu pela valorização da razão nos países protestantes. Com Lacan, examino uma progressão ao Pior. Ao mesmo tempo, o colorido mundo do desatino brasileiro denuncia, através do discurso da histérica, a monocromática vida imposta pelos líderes messiânicos àqueles que suplicam por mestres. Afinal, como aponta Lacan (1946), se a loucura é a mais fiel companheira da liberdade, por que os loucos haveriam de trocar tão boa companhia pelo cabresto de líderes tão canalhas?!
Abstract: The divestment from the public sector in mental health devices deployed after the Psychiatric Reform at the turn of the century seems to follow the growth of religious institutions such as the Therapeutic Communities. Theoretically, they aim at hospitalizing drug users as a treatment method. However, in practice, they have become warehouses of members of Foucault’s (1961) "uniform world of Unreason". Would it be a recurrence of what happened four centuries ago in the European countries covered by Foucault? The fact I did part of my doctorate in Germany – the country where Messianism played an important role in the emergence of the Peasants’ War (1526) and where Anabaptists movements (1533) took place during the late Middle Ages – was paramount so that I could draw parallels with the messianism that inspired several revolts in Brazil. I refer to the topic of messianism, which, according to the religion sociologist Lísias Nogueira Negrão (2001), is “the belief in a savior, God himself or his emissary, and the expectation of his arrival, which will end the existing balance, regarded as unfair or oppressive, and establish a new era of virtue and justice”. My interpretation is an effort to, through psychoanalysis, shed light on the Messianic interference in mental health in Brazil – the advent of Pentecostalism and Neopentecostalism. To better understand the context in which those movements took place, I stem from the hypothesis that the drop in external references that fulfilled the function of the S1 in the master's discourse, contributed to the emergence of the prophetic discourse of Messianic leaders. It is similar to what happened to Antônio Conselheiro, who prayed for the return of the monarchical regime by the hands of Princess Isabel, and who was cheered by a mass of men recently freed from slavery, but with no social conditions to exercise their roles as citizens. During the reign of Pedro II, who founded the hospice named after him, the separation then established between medical and religious knowledge was giving way for the scientific discourse to have the upper hand. In some writings by FIOCRUZ (The Oswaldo Cruz Foundation), I was able to verify that this backed the transformation of the initial treatment for madness into the incorporation of eugenic practice imported from the German psychiatry and the creation of death factories, the “Brazilian Holocaust”. My hypothesis is that the growing intolerance towards madness in our society, which has led to the recent increase in policies to confine drug users and psychotic subjects in Therapeutic Communities, differs from the conduct from 400 years ago, that was due to the valorization of reasoning in Protestant countries. Considering Lacan, I investigate a progression to the Worse. At the same time, the colorful world of the Brazilian Unreason denounces, through the hysteric's discourse, the monochromatic life imposed by Messianic leaders on those who plead for masters. After all, as Lacan (1946) points out, if madness is the most faithful companion of freedom, why should madmen exchange such good company for the halter of such scoundrel leaders?!
Palavras-chave: Psicanálise
Messianismo
Loucura
Psychoanalysis
Messianism
Madness
Área(s) do CNPq: CIENCIAS HUMANAS::PSICOLOGIA::TRATAMENTO E PREVENCAO PSICOLOGICA::INTERVENCAO TERAPEUTICA
Idioma: por
País: Brasil
Instituição: Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Sigla da instituição: UERJ
Departamento: Centro de Educação e Humanidades::Instituto de Psicologia
Programa: Programa de Pós-Graduação em Psicanálise
Citação: BETEILLE, Irene Moura. “Que tal se os loucos tiverem razão?”: um olhar psicanalítico sobre o messianismo. 2019. 281 f. Tese (Doutorado em Psicanálise) - Instituto de Psicologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2019.
Tipo de acesso: Acesso Aberto
Endereço da licença: http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/
URI: http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/17700
Data de defesa: 30-Out-2019
Aparece nas coleções:Doutorado em Psicanálise

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