Exportar este item: EndNote BibTex

Use este identificador para citar ou linkar para este item: http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/18682
Tipo do documento: Tese
Título: Do existencialismo sociológico à epistemologia insana: a ordem social como problema psíquico
Título(s) alternativo(s): From sociological existentialism to insane epistemology: social order as a psychic problem
Autor: Peters, Gabriel Moura 
Primeiro orientador: Vandenberghe, Frédéric
Primeiro membro da banca: Silva, Luiz Antonio Machado da
Segundo membro da banca: Santos, Myrian Sepúlveda dos
Terceiro membro da banca: Perrusi, Artur Fragoso de Albuquerque
Quarto membro da banca: Cefaï, Daniel
Resumo: As abordagens praxiológicas na teoria social convergem na tese de que a ordem societária não constitui um dado, mas um resultado contingente de condutas habilidosas levadas a cabo em uma multiplicidade de cenários. O acento sobre a contingência da ordem social acarreta, entretanto, investigar por que os agentes investem, afinal, na inteligibilidade, na organização e na previsibilidade dos seus contextos de ação. Cada uma à sua maneira, as praxiologias de Peter Berger, Pierre Bourdieu e Anthony Giddens desaguaram na visão de que esse investimento responde a um anseio por segurança ontológica (lato sensu), um anelo vital por uma experiência do mundo e da própria existência como dotados de ordem, justificação e sentido. Com base nesses autores, a primeira parte da tese esquadrinha os mecanismos sociopsicológicos de produção da segurança ontológica, bem como algumas situações-limite ou “ameaças marginais” (Berger) que a perturbam, tais como o sonho, a psicose e a morte. O programa de investigação do “existencialismo sociológico” explora, assim, a conexão entre a contingência da ordem social, tal como pintada nas teorias praxiológicas, e o impulso existencial humano na direção de uma vivência ontologicamente segura do mundo e de si. Por sua feita, o estudo de “epistemologia insana” ou “heurística da insanidade” tecido nas partes subsequentes da tese faz uso de um artifício metodológico que se provou frutífero em uma variedade de domínios de pesquisa acerca da conditio humana (da psicanálise do século XX até a neurociência mais recente), qual seja, o mergulho no âmbito do “patológico” com vistas à iluminação de modalidades “normais” de ação e experiência. Lançando mão deste estratagema no plano das caracterizações sociológicas da conduta humana, o trabalho mobiliza descrições fenomenológicas e existenciais de vivências esquizoides e esquizofrênicas não apenas para compreendê-las à luz da teoria praxiológica da ação, mas também para aprofundar a teoria praxiológica da ação à luz do que aquelas descrições nos ensinam sobre a multiplicidade de modos de “ser-no-mundo” exibida pelo anthropos. O senso da autoevidência da realidade inscrito na “atitude natural”, a orientação fundamentalmente pragmática em relação ao ambiente objetal e intersubjetivo, o caráter corporalmente engajado da ação cotidiana, o apoio prático em crenças e habilidades tácitas (não apenas no cumprimento de tarefas rotineiras, mas também como o pano de fundo indispensável de deliberações reflexivas) – estes e outros traços de nosso ser-no-mundo, hegemonicamente incluídos em retratos da agência humana na teoria social contemporânea graças à influência de perspectivas praxiológicas, estão precisamente entre as disposições subjetivas mais radicalmente transformadas em diversos processos esquizoides ou esquizofrênicos. Calcada nos trabalhos de psiquiatras como Louis Sass e Thomas Fuchs, a tese defende que tais transformações, a despeito de seus custos psíquicos e sociais, não devem ser concebidas como meros déficits agenciais e experienciais, mas como atitudes existenciais complexas que requerem uma descrição tão minuciosa quanto possível. A relação pragmática com objetos materiais dá lugar a uma perplexidade quase-filosófica em face de sua mera realidade, os acordos intersubjetivos que oferecem familiaridade e ordem à realidade social em dada cultura são percebidos na sua arbitrariedade ontológica radical e o estranhamento quanto ao próprio corpo deixa de ser um lúdico ceticismo cartesiano para tornar-se uma vivência existencial profunda.
Abstract: The praxeological approaches in social theory converge on the thesis that social order is not a given, but a contingent result of skilled conducts undertaken in a multiplicity of settings. The emphasis on the contingency of social order requires, however, an inquiry into why agents invest, after all, on the intelligibility, organization and predictability of their contexts of action. Each in its own way, the praxeologies of Peter Berger, Pierre Bourdieu and Anthony Giddens culminated in the view that this investment stems from a longing for ontological security (lato sensu), a vital yearning for an experience of the world and of one’s own existence as endowed with order, justification and meaning. Based on these authors, the first part of the thesis scans the social-psychological mechanisms for the production of ontological security, as well as some of the limit situations or “marginal threats” (Berger) which disturb it, such as dreaming, psychosis and death. The research program on “sociological existentialism” explores, therefore, the connection between the contingency of social order, as portrayed in praxeological theories, and the human existential impulse towards an ontologically secure experience of the world and of oneself. As for the study of “insane epistemology” or “heuristics of insanity” developed in the subsequent parts of the thesis, it deploys a methodological device that has proven fruitful in a variety of research domains on the conditio humana (from XXth century sychoanalysis to the most recent neuroscience), namely the plunge into the realm of the “pathological” as a path to illuminate “normal” modalities of action and experience. Resorting to this strategy on the plane of sociological characterizations of human conduct, the thesis mobilizes phenomenological and existential descriptions of schizoid and schizophrenic experiences not only to understand these in light of the praxeological theory of action, but also to deepen the praxeological theory of action in light of what such descriptions teach us about the multiplicity of ways of being-in-the-world exhibited by the anthropos. The sense of the self-evidence of reality inscribed in the “natural attitude”, the fundamentally pragmatic orientation towards the objectual and inter-subjective environment, the bodily engaged character of daily action, the practical reliance on tacit beliefs and skills (not only in the undertaking of routine tasks, but also as the indispensable background of reflexive deliberations) – these and other traces of our being-in-the-world, hegemonically included on accounts of human agency in contemporary social theory due to the influence of praxeological perspectives, are precisely among the subjective dispositions which are most radically transformed in various schizoid or schizophrenic processes. Based on the works of phenomenologically informed psychiatrists such as Louis Sass and Thomas Fuchs, the thesis defends that these transformations, despite their psychic and social costs, must not be conceived as mere agential and experiential deficits, but rather as complex existential attitudes which require as minute an account as possible – attitudes in which, for instance, the grounding on tacit beliefs is replaced with a hyper-reflexive compulsion, the pragmatic relationship with material objects gives way to a quasi-philosophical perplexity in face of their mere reality, the inter-subjective agreements that offer familiarity and order to social reality in a given culture are perceived in their radical ontological arbitrariness, and the estrangement from one’s own body ceases to be a playful Cartesian skepticism so as to become a profound existential experience.
Palavras-chave: Social order
Ontological security
Praxeology
Schizophrenia
Ordem social
Segurança ontológica
Praxiologia
Esquizofrenia
Área(s) do CNPq: CIENCIAS HUMANAS::SOCIOLOGIA::FUNDAMENTOS DA SOCIOLOGIA
Idioma: por
País: Brasil
Instituição: Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Sigla da instituição: UERJ
Departamento: Centro de Ciências Sociais::Instituto de Estudos Sociais e Políticos
Programa: Programa de Pós-Graduação em Sociologia
Citação: PETERS, Gabriel Moura. Do existencialismo sociológico à epistemologia insana: a ordem social como problema psíquico. 2014. 347 f. Tese (Doutorado em Sociologia) – Instituto de Estudos Sociais e Políticos, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.
Tipo de acesso: Acesso Aberto
URI: http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/18682
Data de defesa: 2-Jul-2014
Aparece nas coleções:Doutorado em Sociologia

Arquivos associados a este item:
Arquivo Descrição TamanhoFormato 
Tese - Gabriel Peters -2014 - Completa.pdf2,11 MBAdobe PDFBaixar/Abrir Pré-Visualizar


Os itens no repositório estão protegidos por copyright, com todos os direitos reservados, salvo quando é indicado o contrário.