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Tipo do documento: Dissertação
Título: A gestão da saúde reprodutiva em uma Clínica da Família no município do Rio de Janeiro: práticas de saúde na fronteira entre cuidado e violências
Título(s) alternativo(s): The institutional management of reproductive health in a primary health care facility in the city of Rio de Janeiro: health practices on the border between care and violence
Autor: Freitas, Dandara Pimentel 
Primeiro orientador: Cárdenas, Claudia Mercedes Mora
Primeiro membro da banca: Brandão, Elaine Reis
Segundo membro da banca: Lowenkron, Laura
Resumo: As práticas com atenção à saúde reprodutiva na Atenção Primária à Saúde estendem-se desde a oferta e prescrição de métodos contraceptivos ao seguimento pré-natal de risco habitual. Essas práticas são norteadas por protocolos que objetivam sua normatização em direção às políticas. Estas, por sua vez, são engendradas por mecanismos de governança consistentes em intervenções tecnocráticas que almejam a regulação da fecundidade e ensejam políticas populacionais. Nesse sentido, buscamos compreender a gestão da saúde reprodutiva na Atenção Primária à Saúde a partir da análise dos saberes, expectativas e representações em torno das práticas em questão, sob as perspectivas simbólico-interacionista e interseccional. Trata-se de um estudo etnográfico, realizado através de observação participante e entrevistas abertas a profissionais e usuárias de uma Clínica da Família situada em uma favela da zona norte do Rio de Janeiro. A entrada em campo trouxe à tona certo jogo de posicionalidades, em decorrência do duplo-papel exercido pela pesquisadora, também profissional de saúde. Por meio da observação de mediações e negociações nos guichês das equipes, desvelaram-se processos de estigmatização direcionados a mulheres negras, jovens e com “filhos demais”. A prescrição e manejo de meios e métodos contraceptivos contrapõem a retórica da “escolha livre e informada” ao paradigma da norma contraceptiva, enquanto responsabilização integral das mulheres pela gestão da fecundidade. O modo como às mulheres gerem a fecundidade, por sua vez, revelou-se contingencial e permeado por ambivalências e ausências. A laqueadura figurou como objeto de desejo, metaforizado através do “Passaporte” enquanto documento que autoriza as mulheres à sua realização. Os LARC (long-acting reversible contraceptives), por sua vez, ensejam discursos pautados na autonomia, subsumidos, entretanto, a reatualizações do paradigma controlista neomalthusiano, que baliza sua oferta diferencial a mulheres lidas como “vulneráveis”. A violência obstétrica emergiu enquanto categoria a partir da narrativa de uma das profissionais entrevistadas que, em interlocução com a narrativa de um parto violento por parte de uma das usuárias, apontou diferentes sentidos de agência, bem como a própria nomeação do que é violento enquanto processual. Por fim, práticas contra-hegemônicas de cuidado às mulheres, não centradas em sua fecundidade, surgiram a partir do “Grupo de Mulheres”, de cunho vivencial e com facilitação da narração das usuárias. Com base na entrevista à profissional facilitadora do grupo, impuseram-se questões ao ser mulher enquanto experiência unívoca e dissociada dos demais vetores de poder. A ausência de performances de sexualidades dissidentes dentre as usuárias foi um dado revelador de exclusões institucionais para além das intencionalidades profissionais, reiterando a vinculação, de cunho normativo, entre fecundidade, reprodução e “saúde da mulher”. O presente trabalho revelou, por fim, tensões entre escolha e norma, autonomia e coerções e cuidado e controle, através de práticas de saúde derivadas de mecanismos regulatórios da fecundidade, eufemizados pela linguagem de direitos na contemporaneidade. Estas técnicas têm lugar em uma matriz bio-necropolítica que autoriza e desautoriza maternidades, e, não obstante, dão lugar a agenciamentos por parte de usuárias e também profissionais, forjados em dinâmicas de poder que articulam raça, classe, gênero, território, geração e demais corporalidades.
Abstract: Practices that target reproductive health in Primary Health Care range from the provision and prescription of contraceptive methods to prenatal care. These practices are guided by protocols, which aim to standardize them towards policies. These, in turn, are engendered by governance mechanisms through technocratic interventions that aim to regulate fertility and give rise to populational policies. In this sense, we seek to understand the institutional management of reproductive health in Primary Health Care, based on the analysis of knowledge, expectations and representations surrounding the practices in question, from symbolic-interactionist and intersectional perspectives. This is an ethnographic study, carried out through participant observation and open interviews with professionals and users of a PHC facility located in a favela in Rio de Janeiro. Entering the field brought to light a certain game of positionalities, due to the dual role played by the researcher, also a health professional. Through observation of mediations and negotiations at the teams' counters, stigmatization processes directed at young black women and those with “too many children” were revealed. The prescription and management of contraceptive means and methods contrasts the rhetoric of “free and informed choice” with the paradigm of contraceptive norm, as women are fully responsible for fertility management. The way women manage fertility, in turn, revealed itself to be contingent and permeated by ambivalences and absences. Tubal ligation appeared as an object of desire, metaphorized through the “Passport” as a document that authorizes women to perform it. LARC (long-acting reversible contraceptives), in turn, give rise to discourses based on autonomy, subsumed, however, by re-updating the neo-Malthusian controlist paradigm, which defines its differential offer to women seen as “vulnerable”. Obstetric violence emerged as a category from the narrative of one of the interviewed professionals who, in dialogue with the narrative of a violent birth by one of the users, pointed out different meanings of agency, as well as the very naming of what is violent as a procedural. Finally, counter-hegemonic practices of care for women, not centered on their fertility, emerged from the “Women's Group”, with an experiential nature and facilitation of women’s narration. Based on the interview with the professional facilitator of the group, questions were imposed on being a woman as a univocal experience, dissociated from other vectors of power. The absence of performances of dissident sexualities among users was revealing of institutional exclusions beyond professional intentionality, reiterating the normative link between fertility, reproduction and “women's health”. The present work finally revealed tensions between choice and norm, autonomy and coercion, and care and control, through health practices derived from fertility regulatory mechanisms, euphemized by the language of rights in contemporary times. These techniques take place in a bio-necropolitical matrix that authorizes and disauthorizes maternities, and, nevertheless, give rise to agencies on the part of users and also professionals, forged in power dynamics that articulate race, class, gender, territory and generation.
Palavras-chave: Serviços de Saúde Reprodutiva
Atenção Primária à Saúde
Direitos Sexuais e Reprodutivos
Anticoncepção
Racismo
Violência Obstétrica
Relação Profissional-Paciente
Violência de Gênero
Reproductive Rights
Primary Health Care
Professional-Patient Relationship
Gender Violence
Racism
Área(s) do CNPq: CIENCIAS DA SAUDE::SAUDE COLETIVA
Idioma: por
País: Brasil
Instituição: Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Sigla da instituição: UERJ
Departamento: Centro Biomédico::Instituto de Medicina Social Hesio Cordeiro
Programa: Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva
Citação: FREITAS, Dandara Pimentel. A gestão da saúde reprodutiva em uma Clínica da Família no município do Rio de Janeiro: práticas de saúde na fronteira entre cuidado e violências. 2024. 141 f. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) - Instituto de Medicina Social Hesio Cordeiro, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2024.
Tipo de acesso: Acesso Aberto
URI: http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/22051
Data de defesa: 25-Mar-2024
Aparece nas coleções:Mestrado em Saúde Coletiva



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